batata palha.. vai. queijoa ralado e catchup também. pão e linguíça. eu adoro cachorro-quente. é a minha comida favorita, é a única comida que eu sei fazer. comia um no centro quando vi aquela bela moça. saia até os joelhos. tinha pernas bonitas. sempre fui vidrado em pernas. vinha em direção à barraquinha de lanches onde eu estava. não sabia que ladies comiam comida de qualidade alimentícia duvidosa. comecei a olhar pro meu lanche, pensar.. não tem graça comer os ingredientes separados. queijo ralado puro nem é muito bom. mas, tudo junto, fica bom. nunca fui de pensar muito, estabelecer grandes fluxos de consciência. ela tinha mesmo pernas bonitas. isso era importante pra mim. pernas longas e finas, levemente douradas.. batatas palhas. claro! a batata palha sozinha não faz sentido culinário. merda. isso que dá não pensar muito. a gente pensa nas horas erradas, e pensa imbecilidades. o pão puro é estúpido. levemente torrado por uma chapa gordurosa e recheado de molho vermelho faz minha adrenalina pulsar, latejar por entre o fino calibre de meus vasos. a bolsa dela era vermelha. não conseguia parar de comer. sim! claro. não importa se ela tinha pernas bonitas. elas podem não se contextualizar com o resto, o cachorro quente. decidi brincar. o pão seria sua pele. o queijo ralado, as pintas. o ketcup, misturado com a maionese, formava um molho rosê levemente ruivo, como seus cabelos. milho e ervilha? os brincos e os anéis. nunca gostei de mostarda, e nada nela me lembrava uma linguiça. descobri. como não pensei nisso antes? é como tudo na vida. isoladamente, as coisas não fazem sentido. os sentimentos, inclusive. quando gostamos de alguém, a interação entre fenômenos inicialmente individualizados faz com que tudo pareça melhor. uma amálgama de percepções subjetivas individuais. nisso, um leve desapontamento pode estragar tudo. deturpar qualquer idealização, por mais imaculada, ou imborrável que ela seja. olhei de novo pra ela. meu cachorro-quente estava no fim, e tudo na ruiva me agradava. merda. por que tudo se contextualiza? ela comia de boca aberta.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
angiospermas traidoras
costumava ir com a família ao parque, nos domingos. conhecia ele todo, de canto a canto, de árvore à árvore. já havia brincado em todos os balanços, girado em todos os sentidos nos gira-giras, escorregado de barriga no escorregador. as árvores eram as melhores amigas. havia as com galhos finos, com galhos grossos, com formigas. preferia uma, em especial. era tão cheia de folhas, tão volumosa, que transferia a um grande raio em volta uma sombra refrescante. gostava da sombra. era fresca, o vento parecia gelar por ali. já tinha um caminho para subir nela. sabia em que galho se apoiar, sabia quanto impulso devia fazer, sabia proceder em situações de emergência. de início, o pai a levantava para subir ali. depois, só servia de apoio. passado mais tempo, só assistia. a sua garotinha não precisava mais de ajuda. ela crescera ali, criara com a árvore uma intimidade grande. ali aprendeu a gostar da natureza. vivia em um submundo bucólico, como se uma bolha a envolvesse, a protegesse. enquando a mãe conversava com outras mães sobre outras mães, ela ficava ali, e o pai observava-a. eles começaram a confiar na árvore, passaram a acreditar que ali a filha estaria segura. a árvore foi o baluarte de uma infância pura, de toda uma essência juvenil. com o passar do tempo, a garotinha cresceu. não mais ia ao parque, mas não havia se desvinculado de sua melhor amiga. gostava de pensar que a árvore sentia saudades, que a árvore gostava que fossem conversar com ela, visitá-la. foi, um dia. sem os pais. já se sentia grande, por dentro e por fora. crescera de forma bonita, tinha belas feições. chegara ali. a penumbra do dia nascia, mas ali estava segura. não notara o tempo passando. a última coisa que escutou foi "essa aí é branquinha por fora.. deve ser vermelhinha por dentro!". quando viu, estava no chão. um estranho olhava para ela com um semblante carnívoro, sedento. possuiria ela ali, ninguém por perto. a árvore tapava a visão de quem passava pelo lado da praça, de carro. agora traí-a: sem a árvore, aquilo não aconteceria. "essa raba tá muito lisa pro meu gosto!". sentiu uma pressão, mas estava confusa. preferia acreditar que não acontecia. "tu vai ver agora, meu bem, vai ver agora". a pressão era tanta que desmaiou. acordou, era noite. as calças arriadas, as pernas sujas de terra, a calcinha rasgada, no chão. não entendia o que acontecia. sentia ardência por dentro, como se cinco mil garras de aço a tivessem cortado em mil pedaços e seu corpo não tivesse remendado-se. a árvore ali, inóspita, estática, indiferente. percebeu o que tinha acontecido. tinha vontade de chorar, mas não tinha força (..) não era mais a mulher feliz, não era mais mulher. sentia-se como conteúdo de lixeira, com chorume escorrendo pelos cantos da boca e maculando a pele leitosa. muitos contrapontos instauravam-se na sua mente. a árvore fora o início, mas também o fim. ou teria sido o fim, para depois ela realmente viver a vida real, o início? não sabia responder o que era início, o que era final. não sabia responder coisa alguma. os galhos traíram-na. agora, sentia-se só em mundo, fora da bolha. podia olhar as crianças viverendo em suas bolhas, e agora pensava em estourá-las com um objeto fálico, assim como fizeram consigo. plox: vida real, podre.
estranha fêmea vaginada do sexo feminino
nunca gostei destas cadeiras escolares. são duras e deixam a bunda suada, grudenta. tudo me incomodava naquele fim de tarde: a droga de cadeira, a droga de blusão que não parava de coçar, ela, aquela galinha do caralho! sentado num ônibus, há um tempo atrás, ela entrou e se sentou do meu lado. algum tempo depois, fui reencontrá-la na aula de literatura. ela fez que não sabia quem eu era, mas ambos sabíamos o que ela realmente pensava. tinha um jeito peculiar, tinha os cabelos curtos e em um bonito degradê amarelo. usava echarpes e sobreblusas, chinelos. tinha uma raba grande, e uma pinta em cima de um dos peitos. de perna parecia meio mal, mas o resto compensava. gostava do rabo dela. tive que começar a conversa, eu gostava dela. gostava dela desde a primeira vez que eu a vi entrar no ônibus. apostei umas moedas nela. não sei se foi por algo que eu disse, ou por algo que deixei de dizer, mas ela parecia não mais se importar comigo. talvez a culpa fosse minha, largando toda hora comentários escatológicos, ácidos ou de mau-gosto. mas eu gostava dela, queria ela pra mim. naquele dia tudo se voltava contra mim. sentia uma vontade grande de cortar minha garganta. só vontade, não coragem. sabia que ainda tinha muito o que fazer por aqui. ela tinha a voz fina e era pequena. odiava o estilo dela. "sou rica, mas sou inteligente". era isso que ela passava. não importa, eu gostava mesmo dela. não sabia direito o que falar pra conquistar ela, nunca fui bom nisso. ela era mesmo estranha.. tinha um pouco de medo dela, queria agradar. estava excepcionalmente bonita naquela aula. um chinelo dourado, uma calça jeans, as malditas blusas sobrepostas e um echarpe roxo. magia. algumas mulheres são pura magia. queria muito ela. eu ficaria feliz do lado dela. como pode ser tão difícil assim? por que ela impõe tantas barreiras subjetivas? me levantei. fui ao banheiro. olhei para o espelho, fiquei me encarando. seria capaz? estava ali, dentro da calça, ao lado de meu objeto fálico, com a droga de blusão tapando. tinha a vontade, não a coragem. é.. nunca tive a coragem pras coisas. eu queria viver. gostava de acreditar que teria chance com ela. "o movimento da antropofagia foi uma continuidade ao manifesto pau-brasil, formulado por osw.." dizia o mestre. ela estava na segunda fileira, atenta. entrei na cabeça dela, percebi que ela queria que os outros percebessem que ela estava atenta. prática comum. a arma, embaixo do blusão, engatilhada. ela estava a uns 6 metros de mim. nunca demorou tanto caminhar estes seis metros. tudo passava pela minha cabeça. um turbilhão de perguntas cujas respostas eu não queria saber, ou não gostaria de saber. seria capaz..? ela é tão bonita, olha pra essa raba. não.. sim! por que fazer isto comigo? eu não te daria todo amor do mundo? não te cantaria todas as músicas que tu gostaria de ouvir? não daria a minha vida pela tua? o que mais tu pode esperar de mim? ou de alguém? entendi. eles não querem que tu ame. eles querem que, além de amar, tu mostre satisfação por isso. não sentia. odiava não poder odiá-la. sua galinha do caralho, o que tu mais tu quer de mim? te dou meu coração. SIM. como eu disse, ela era estranha. agora..
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